Vinopoly

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Uma surpreendente degustação ás cegas de grandes Cabernets do mundo

Dentro da densa programação do recente Rio Wine & Food Festival 2016, um dos eventos certamente mais interessantes e estimulantes foi um seminário, seguido de 2 degustações ás cegas de grandes Cabernet Sauvingon do mundo, promovido pela vinícola chilena Santa Rita.

A ideia é apresentar a vinícola (que na verdade dispensa apresentações) para o mundo e descobrir se seus vinhos podem brigar com rótulos mais badalados, além de tentar identificar as diferenças que a cabernet sauvignon apresenta em diversas latitudes e longitudes do planeta.  A mesma prova já foi realizada 3 vezes em Londres e uma vez em Nova York, sendo esta do Rio de Janeiro a primeira fora deste eixo.

O evento aconteceu no badalado hotel Copacana Palace, com a participação do Marcelo Copello e Sérgio Queiroz (organizadores do festival), Elena Carretero (Gerente de assuntos corporativos e sustentabilidade da Santa Rita) e Manoel Beato (sommelier chefe do grupo Fasano, moderador da degustação) e com a presença dos 2 principais responsáveis pela elaboração  dos vinhos da Santa Rita, que  nos homenagearam com 2 ricos seminários.

Marcelo Copello apresentando o evento
O Andrés Ilabaca, enólogo chefe da vinícola nos iluminou com uma verdadeira “aula magna” sobre cabernet, com uma ampla abordagem que partiu da genética, terminando nos grandes terroirs onde a casta é cultivada no mundo.

"Aula magna" de Andrés Ilabaca



A seguir o primeiro painel de degustação ás cegas, formado por 6 grandes cabernets do mundo (em varietal ou em blend). Vale ressaltar que recebemos antecipadamente as informações sobre os vinhos da prova, apenas não sabíamos qual seria a ordem de serviço.  Os rótulos provados foram:

- Catena Zapata, Angélica Zapata 2011 (Mendoza, Argentina)
- Château Ste. Michelle Indian Wells 2012 (Columbia Valley, Washington, EUA)
- Blason d´Issan 2012 (Margaux, Bordeaux, França)
- Santa Rita Medalla Real 2012 (Maipo Alto, Chile)
- Avignonesi Cantaloro 2014 (Toscana, Itália)
- Jim Barry The Cover Drive 2010 (Coonwarra, Austrália)

O primeiro painel de degustação


Seis vinhos com evidentes diferenças: pra mim algumas ficaram nítidas já no nariz, onde identifiquei de cara o australiano (mais balsâmico e floral) e o chileno (pimentão verde). Para outros o paladar tirou a dúvida: a elegância e o corpo aveludado dava claros indícios sobre o Margaux e os taninos firmes e alta acidez entregaram o Toscano. Acabei apenas trocando o americano pelo argentino, erro até perdoável.

Quem ganhou este primeiro painel foi o Blason d´Issan, que foi também o meu preferido.

Seguiu coffee-break (que não tinha coffee, para não alterar o paladar, e umas comidinhas) e de volta para o “duro trabalho” fomos recebidos por mais uma bela master-class conduzida pelo Gerardo Leal, gerente de viticultura da Santa Rita, que nós explicou o trabalho minucioso da empresa dentro dos vinhedos a partir das sementes e um aprofundamento sobre o terroir de Alto Jahuel/Maipo Alto, onde são cultivadas as videiras da vinícola.

A seguir o segundo painel de degustação ás cegas, desta vez com 6 Cabernet Sauvignon ícones, no mesmo esquema, também varietais e cortes. Os vinhos foram:

- Château Pontet-Canet 2011 (Pauillac, Bordeaux, França)
- Santa Rita Casa Real 2011 (Maipo Alto, Chile)
- Solaia Marchesi Antinori 2011 (Toscana, Itália)
- Stag´s Leap Artemis 2012 (Napa Valley, California, EUA)
- Te Mata Coleraine 2010 (Hawkes Bay, Nova Zelândia)
- Rockford Rifle Range 2007 (Barossa Valley, Australia)



Aqui as coisas complicaram: os vinhos eram de maneira geral muito mais parecidos um com o outro, sinal que quando o nível sobe as diferenças tendem a diminuir. Pessoalmente no começo tinha apenas um vinho no qual teria apostado, o de Napa, pelo seu estilo marmelada (e de fato acertei). A partir daí foi seguindo por exclusão: o australiano, de safra mais antiga, só podia ser o mais evoluído e maduro do grupo, o chileno com a mesma nota inicial de pimentão e por aí vai. Até o final fiquei apenas com uma forte dúvida entre qual seria o francês e qual o italiano; acabei acertando a dupla, mas trocando um pelo outro. Deixei-me condicionar mais pelo instinto e pela memória, especialmente pelo fato que o Pontet-Canet que provei no ano passado era totalmente diferente deste, mas era de safra diferente, mais novo (2014) e servido imediatamente depois de aberto na minha frente na própria vinícola (veja aqui mais detalhes ): obviamente o vinho era sim elegantíssimo, mas ainda muito jovem e fechado; já este 2011 me pareceu perfeito e do fundo do meu nacionalismo esperava que o vinho que mais eu tinha gostado fosse o italiano, mas fui traído. Malditos franceses, mais uma vez tive que reconhecer a superioridade de vocês e mais uma vez tive que declarar o meu amor e paixão aos seus grandes vinhos!

Mas, por minha grande surpresa, o vinho mais votado pelos participantes neste 2º painel se mostrou ser o Santa Rita Casa Real! Não digo com demérito, pelo contrário, o vinho é muito bom, e a Santa Rita mostrou saber bem o que faz, se colocando a frente de 2 vinhos que já ganharam 100 pontos em mais de uma ocasião pelas maiores publicações do mundo. Mas pra mim o chileno teria ficado em 3º lugar, depois da dupla franco-italiana. Aí na verdade entra em jogo mais uma questão de gosto pessoal. Como bom italiano é lógico que prefiro vinhos do Velho Mundo, e é igualmente normal que uma plateia de brasileiros acabe se identificando mais com o vinho chileno, é uma questão que envolve familiaridade com os estilos.

Quanto á brincadeira da degustação ás cegas foi certamente divertida e didática e posso até me considerar satisfeito com a minha performance (se bem que poderia ter feito melhor, se tivesse pensado mais), cravando 8 de 12 vinhos. E mais ainda cometendo erros até de certa forma coerentes, trocando afinal 2 vinhos americanos (um do norte por um do sul do continente) de estilo bem parecido, sendo ambos varietais 100% cabernet e 2 vinhos europeus, também bem similares, sendo ambos 2 cortes bordaleses.
Afinal, eu que não me considero um grande degustador, fiz melhor que muitos supostos experts badalados que estavam por ali (shhhh, não disse nada...! ;-)).

O terraço do sempre charmoso Copacabana Palace





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